Este fichamento analisa o artigo Psicogênese da língua escrita: uma análise necessária (Andrade, Andrade & Prado, 2017), que revisita criticamente a obra de Emília Ferreiro e Ana Teberosky sobre o desenvolvimento da leitura e escrita. O texto discute as bases teóricas construtivistas, o papel do Whole Language e contrasta essas ideias com evidências contemporâneas da psicolinguística e estudos sobre consciência fonológica, apontando limitações e contradições na teoria da psicogênese da língua escrita.
Referência completa
ANDRADE, Paulo Estevão; ANDRADE, Olga Valéria Campana dos Anjos; PRADO, Paulo Sérgio T. do. Psicogênese da língua escrita: uma análise necessária. Cadernos de Pesquisa, v. 47, n. 166, p. 1416-1439, out./dez. 2017.
Tema
Análise crítica da obra Psicogênese da Língua Escrita, de Ferreiro e Teberosky (1984), confrontando suas interpretações com dados empíricos e literatura científica sobre alfabetização.

Objetivo do artigo
Avaliar criticamente as concepções de Ferreiro e Teberosky sobre o desenvolvimento da leitura e escrita infantil, destacando contradições e inconsistências em relação a evidências da psicolinguística e pesquisas sobre consciência fonológica.
Principais ideias
- Ferreiro e Teberosky afirmam que a escrita é aprendida como a fala, de modo natural e espontâneo, inspiradas em Piaget (constructivismo) e Chomsky (dispositivo inato para linguagem).
- A abordagem Whole Language (Goodman) influencia fortemente suas interpretações, privilegiando a busca de sentido global do texto em detrimento da decodificação precisa.
- A pesquisa original das autoras observou crianças entre 4 e 6 anos, sugerindo estágios como pré-silábico, silábico e alfabético, mas interpretou esses dados como prova de que a escrita não seria uma transcrição da fala.
- As autoras veem a “hipótese silábica” (uma letra por sílaba) como conceito-chave no desenvolvimento, mas o artigo demonstra que essa hipótese não se sustenta estatisticamente nem explica adequadamente a aprendizagem da correspondência letra-som.
- Evidências da psicolinguística e estudos sobre consciência fonológica mostram que crianças constroem hipóteses fonológicas antes da alfabetização formal, mas que o ensino explícito das relações grafema-fonema é essencial.
- Contribuições de Read (1971), Ehri (1975) e outros indicam que o aprendizado do princípio alfabético, e não apenas a exposição a textos significativos, é crucial para a alfabetização.
- A ortografia alfabética, mesmo em línguas como o inglês, codifica sons da fala de modo previsível e sistemático, contrariando a ideia de que sistemas alfabéticos funcionam como ideogramas.
- Pesquisas recentes (Treiman, Ehri, Cardoso-Martins) reforçam que o desenvolvimento da leitura e escrita depende do domínio das relações grafema-fonema, não apenas da compreensão global do texto.
Principais críticas feitas
- Interpretação equivocada dos próprios dados (ex.: crianças diferenciam texto de imagem mais cedo do que afirmado).
- Contradição entre valor atribuído à hipótese silábica e evidências empíricas contrárias.
- Aproximação inconsistente entre construtivismo piagetiano, inatismo chomskyano e Whole Language.
- Minimização do papel da decodificação fonológica no ensino inicial da leitura.
- Uso inadequado de referências (ex.: interpretação errônea de Klima, 1972, sobre ortografia).
Conclusão dos autores
As interpretações de Ferreiro e Teberosky desconsideram as evidências robustas sobre a centralidade do ensino explícito das relações grafema-fonema na alfabetização. A abordagem Whole Language, adotada por elas, é insuficiente para explicar ou promover a aprendizagem da leitura, especialmente em sistemas alfabéticos.
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