São habilidades trabalhadas antes da alfabetização, que colaboram muito para a formação de um leitor bem-sucedido.
As pesquisas na área da Ciência da Leitura têm nos mostrado que diversas habilidades servem de suporte e dão condições para que a Alfabetização aconteça. Uma delas é a linguagem oral. Conseguir se expressar e compreender o que se ouve são ações que nos permitem desenvolver nosso vocabulário expressivo e receptivo, o que é fundamental para a compreensão da leitura. Porém, ter uma boa comunicação oral não é a única condição exigida nesse aprendizado tão complexo da linguagem escrita. Além dela, são importantes, dentre outras, as habilidades do processamento fonológico da linguagem, as funções executivas e a atenção.
A partir do desenvolvimento da linguagem oral, a criança se torna capaz de pensar de forma consciente sobre os segmentos de sua fala (palavras, sílabas, sons), memorizar sequências de sons verbais, e acessar rapidamente e de forma precisa informações fonológicas em sua memória de longo prazo. Essas habilidades compõem o processamento fonológico da linguagem, que forma uma ponte entre a linguagem oral e a linguagem escrita. Portanto, o processamento fonológico engloba a consciência fonológica, a memória fonológica e o acesso lexical.
Assim, quando falamos as sílabas de uma palavra de forma segmentada (exemplo: BO-LA) e pedimos para a criança uni-las oralmente e dizer que palavra é essa, ela irá precisar pensar na estrutura dessa palavra, armazenar esses estímulos verbais até realizar a tarefa e acessar o significado da palavra em seu léxico mental, ou seja, usará suas habilidades do processamento fonológico. Dificuldades persistentes, durante a alfabetização, para manipular, processar, produzir e reproduzir segmentos fonológicos podem indicar problemas na memória fonológica e na rapidez ao acesso da informação fonológica, levando a dificuldades na decodificação da leitura. Por isso, promover essas habilidades desde a Educação Infantil tem sido apontado como um elemento fundamental para uma Alfabetização bem-sucedida.
Por isso, sugerimos que você dedique um tempo extra em sua sala de aula para a realização de atividades que estimulem o processamento fonológico, utilizando-se, por exemplo, de estratégias que trabalhem a discriminação dos sons da fala, a repetição de palavras reais ou inventadas em sequência, e a nomeação rápida de figuras, cores, dígitos e letras (SILVA; CAPELLINI, 2015).
Um outro conjunto de habilidades e capacidades que dá suporte para o aprendizado da leitura e da escrita é chamado de Funções Executivas.
Embora não exista um consenso sobre esse conceito, a maior parte dos autores costuma defini-la como um grupo de processos cerebrais complexos e sofisticados, que nos permitem executar as ações necessárias para atingir um objetivo, controlar e flexibilizar nossos pensamentos e comportamentos, tomar decisões, planejar, regular nossas emoções, solucionar problemas e monitorar nosso progresso. Além de contribuir com o desenvolvimento da linguagem escrita, um bom funcionamento executivo possibilita melhor interação social e diminui a ocorrência de comportamentos agressivos.
Vários estudos mostram que as funções executivas começam a se desenvolver na primeira infância e vão evoluindo significativamente ao longo da infância, da adolescência e do início da vida adulta. Problemas nas funções executivas podem levar a criança a ter dificuldades em prestar atenção nas explicações dos professores, a realizar as suas tarefas até o final e a inibir os seus comportamentos impulsivos. Portanto, estimular as funções executivas na escola, desde a Educação Infantil, gera benefícios não apenas para o aprendizado da leitura e da escrita, mas para o sucesso acadêmico ao longo da trajetória escolar do aluno (MIRANDA et al, 2016).
Em situação de sala de aula, é frequente que os professores peçam para seus alunos prestarem atenção. Mas, o que exatamente é atenção? Podemos defini-la como uma habilidade complexa que direciona a nossa percepção para um estímulo específico e seleciona a informação que será processada durante um tempo determinado.
Em sala de aula, se a atenção do aluno não for dirigida para o lugar certo, ele perderá informações importantes, como a explicação dada pelo professor, por exemplo. Focar em apenas um estímulo e ignorar os demais não é uma tarefa fácil e exige bastante do cérebro da criança.
Direcionar a atenção em atividades de leitura e escrita é uma tarefa a ser desenvolvida e trabalhada constantemente com os alunos. As pesquisas mostram que a criança apresenta maior envolvimento em atividades motivadoras, desafiadoras e contextualizadas. Outro importante recurso é o uso de reforçadores para incentivar os acertos ou as tentativas de realizar uma tarefa. A organização do espaço escolar também contribui para favorecer o foco atencional da criança (MIRANDA et al., 2016).
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Referências
MIRANDA, M. et al. Conhecendo as funções do cérebro e o comportamento: atenção e o comportamento executivo. Projeto pela Primeira Infância. 2016.
SILVA, C. da; CAPELLINI, S. A. Eficácia de um programa de intervenção fonológica em escolares de risco para a dislexia. Revista CEFAC, v. 17, n. 6, pp. 1827-1837, 2015.
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