Há um ditado que diz: quem não aprende com o passado está fadado a repeti-lo. A pandemia da COVID-19 foi um divisor de águas para a educação e expôs a fragilidade de um sistema que, diante da crise, não sabia o que fazer. O fechamento das escolas, a falta de planejamento para emergências e a ausência de alternativas eficazes resultaram em atrasos educacionais significativos, com impactos profundos na vida de milhões de estudantes.

Agora, anos depois, surge o Pacto Nacional pela Recomposição das Aprendizagens (Decreto nº 12.391/2025). Sem dúvida, a iniciativa é necessária e bem-vinda, mas revela um problema maior: estamos sempre reagindo, nunca prevenindo. Enquanto se discute como recuperar as aprendizagens perdidas, pouco se fala sobre como evitar que essa situação se repita no futuro.

A verdade é que não estamos lidando apenas com números, mas com vidas. Cada estudante que teve sua trajetória educacional interrompida carrega consequências que vão muito além das notas em uma prova. Quando uma criança não aprende a ler e escrever na idade certa, não é apenas o seu futuro que está comprometido, mas também o de sua família, sua comunidade e até mesmo de futuras gerações. Os efeitos da negligência educacional são intergeracionais, afetando o desenvolvimento social e econômico de um país inteiro.

A fábula da formiga e da cigarra nos ensina que quem se prepara sobrevive. Mas, na educação, parece que ainda preferimos agir como cigarras, esperando que a tempestade chegue para só então tentar resolver o problema. Durante a pandemia, a maioria das redes de ensino não tinha planos estruturados para emergências. O ensino remoto foi improvisado, sem diretrizes claras ou base científica para sustentar as decisões. Como consequência, os estudantes mais vulneráveis foram os mais prejudicados.

E se outra crise surgir? O que acontecerá se escolas precisarem fechar novamente por questões climáticas, sanitárias, geopolíticas ou até mesmo de segurança? Estamos preparados ou vamos, mais uma vez, improvisar?

A educação baseada em evidências exige que tomemos decisões com base em dados e pesquisas, não apenas na intuição ou na pressa de resolver o problema depois que ele já aconteceu. Aprendemos algo com a pandemia? Que estratégias funcionaram? Como garantir que as crianças mais vulneráveis não fiquem para trás novamente? Essas são perguntas urgentes que precisam ser respondidas agora – antes que a próxima crise chegue.

A recomposição das aprendizagens é um passo importante, mas não podemos continuar correndo atrás do prejuízo. Estados e municípios precisam ir além da mitigação de danos e começar a pensar em prevenção e manejo de emergências educacionais. Isso significa documentar boas práticas, estruturar respostas rápidas e garantir que, aconteça o que acontecer, a educação não seja interrompida.

O passado já nos deu um aviso. Se não aprendermos com ele, a história se repetirá – e, com ela, milhões de vidas continuarão sendo impactadas de forma cada vez mais drástica.